Só salmos no culto da igreja? - Parte 3
Só salmos no culto da igreja? - Parte 3
Na primeira parte da nossa avaliação falamos sobre 1) O OBJETIVO DOS CÂNTICOS NO CULTO e sobre 2) O CONTEÚDO DOS CÂNTICOS NO CULTO; na segunda parte, questionamos a ideia de que devemos cantar exclusivamente salmos e hinos inspirados. Concluí dizendo que me parece impossível cantar o texto inspirado dos salmos e hinos que encontramos na Bíblia. Impossível porque esse texto se encontra em Hebraico e Grego. Podemos cantar salmos e hinos que são baseados nas sagradas Escrituras. Esses Salmos e Hinos devem ser fiéis à santa Palavra de Deus. Fiéis ao texto da Bíblia e à doutrina da Bíblia. Assim podemos também cantar hinos doutrinários, que se basearam em vários textos da Bíblia. Se não podemos
cantar esses hinos, devemos também proibir o uso das confissões no culto.
Desta vez
quero continuar com a minha avaliação do
livro de Brian Schwertley. Como já disse: a
intenção do autor tem a minha simpatia e por causa disso quero
dar bastante atenção ao assunto desse livro. Não
concordo com o autor, mas isso não quer dizer que não
respeito as intenções dele. Me sinto ao lado dele na nossa luta para cantar
os belos salmos do nosso Senhor. Salmos e Hinos espirituais, que Deus deu ao
seu povo para consolá-lo e para edificá-lo. Devemos
guardar essas pérolas pastorais que o Senhor nos deu e devemos ensina-los
aos nossos filhos. Mas tenho muitas dificuldades com a ideia de que devemos
cantar exclusivamente salmos e hinos
inspirados.
Uns dos
motivos é que existe um mandamento específico para
cantar os salmos
(p.12); eles são
designados por Deus; inspirados pelo Espírito Santo
e fixados no Canon. A ideia é que somente estes 150
salmos que se encontram na Bíblia podem ser usados para
cantar no culto. Só esses.
Sinto
nesses argumentos um respeito profundo pela Palavra de Deus e gosto disso.
Eu também aceito
esses salmos como Palavra de Deus. Mas não
acredito que devemos cantar exclusivamente
esses salmos. Vejo aqui uma regra hermenêutica que
leva ao Biblicismo.
A regra é que só podemos usar
ou cantar o que a palavra de Deus nos ordena. Já disse:
se for assim, devemos cantar os salmos na língua
hebraica, porque os salmos inspirados nos foram dados na língua
hebraica. Se for assim, temos que seguir o estilo da sinagoga ortodoxa dos judeus,
que cantam os salmos no texto sagrado do Antigo Testamento.
Vejo esta
regra hermenêutica também nos grupos ortodoxos dos
anabatistas. Os Amish no Canadá, por exemplo. Eles só usam o
material que Deus lhes ordenou na Bíblia. Não usam
carros, rádio ou televisão ou qualquer
outra coisa que o mundo impuro inventou.
Vejo,
também, em igrejas reformadas ortodoxas, que não usam rádio, televisão e são contra
vacinações, porque a Bíblia não fala
sobre isso. Encontrei essas pessoas na Holanda e no Canadá.
Respeito a simplicidade delas, mas não
concordo.
Vou dar um outro exemplo
para mostrar que esta regra pode nos levar a uma prática absurda.
Vou falar sobre um outro
aspecto da nossa adoração. Não através dos nossos
cânticos, mas através das
nossas orações. Com os mesmos argumentos que foram usados para
defender o uso exclusivo dos salmos inspirados,
eu poderia defender o uso exclusivo da oração inspirada.
Os discípulos
pediram a Jesus: Senhor, ensina-nos a orar. Então ele os
ensinou a orar “o
Pai nosso”. Esta
oração é inspirada e ensinada pelo
nosso Senhor; e ela está fixada no Cânon do
Novo Testamento. Imagine que eu dissesse que devemos orar exclusivamente a oração inspirada no culto. Quer dizer: o
pastor só poderia orar o “Pai Nosso
que está nos céus” no
culto. Será que o nosso Deus quer isso? Os apóstolos não
pensavam assim. Eles estavam cheios do Espírito Santo
e oravam guiados pelo Espírito Santo. Eles oravam as
suas próprias orações.
Porque
somos livres para fazer as nossas orações,
enquanto temos orações inspiradas? Por que não podemos
cantar hinos espirituais, que foram feitos por homens piedosos, em concordância com
as sagradas escrituras? Se as nossas orações
agradam a Deus, os nossos cânticos espirituais também.
E que
pensar dos nossos sermões que são
pregados nos cultos todos os domingos?
Seguindo essa regra hermenêutica,
posso defender que só podemos ler exclusivamente a palavra
de Deus, porque só essa
palavra é inspirada. Sou
pastor e prego todos os domingos e gasto muitas horas na preparação do sermão, porque
temo a palavra poderosa de Paulo: “Mas, ainda que nós ou
mesmo um anjo vindo do céu vos
pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado,
seja anátema. Assim, como já
dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gl. 1:
8-9). Esta palavra severa de Paulo me exorta a fazer sermões que são fiéis à Palavra
de Deus. Estou lutando para fazer isso, mas admito: sou miserável
pecador. Todos os meus sermões terminariam em cinzas se
Aquele que tem olhos como chama de fogo os lesse. Nenhum dos meus sermões é
perfeito, nem inspirado, mas sim fiel à palavra de
Deus. Esses sermões são pregados por mim, Ministro
da Palavra, e acredito que eles são a
palavra profética, que serve para edificar, exortar e consolar (1 Co.
14,3).
Da mesma
maneira acredito que o Espírito Santo habita na congregação. A congregação de
Cristo confessando a sua fé, cantando os seus hinos espirituais, orando as
suas orações espirituais,
ouvindo a pregação da Palavra do Espírito
Santo. Tudo isso acontece em nossas
próprias palavras. Essas palavras não são inspiradas,
mas são cheias de amor. Amor a Deus e amor aos nossos próximos.
Será que Deus não se agrada com essas
palavras, louvores, orações e pregações? Se não, seria melhor
parar os nossos cultos, se não agradam a Deus. Mas
acredito que o sangue do nosso Salvador Jesus nos purifica. Purifica os meus sermões
imperfeitos, purifica as
nossas orações, purifica os nossos cânticos.
Como Pedro disse: sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio
santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a
Deus por intermédio de Jesus Cristo. (1 Pedro 2: 5)
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