Três ideias que explicam a relação entre Israel e a Igreja.
Olá, irmãos,
Um dos posts anteriores foi sobre um livro de Chaim
Potok, que se chama “A Harpa de Davita”. Neste livro a personagem Davita, que
foi criada numa família comunista, encontra os parentes da mãe, que são judeus
ortodoxos, e uma irmã do pai, que é cristã. A leitura desse livro me deixou
pensativo sobre a relação entre Israel e a igreja e o meu interesse cresceu
porque, ao mesmo tempo, tive que reorganizar uma parte da minha biblioteca que
trata do mesmo assunto: a relação entre Israel e a igreja. Fiz uma pequena
pesquisa e compartilho aqui o resultado para quem se interesse!
Três ideias que explicam a relação entre
Israel e a Igreja.
A ideia da
Substituição.
Lendo o Antigo Testamento, fica claro que o povo de
Israel foi escolhido por Iahweh, que disse: “seja santo, porque Eu sou santo!”.
Portanto, Israel é um povo santo, separado do mundo para servir a Deus. A sua
dedicação à Torá, com as suas leis cerimoniais, manteve Israel diferente no seu
contexto, diferente de qualquer outra nação.
De
acordo com a ideia da Substituição, a igreja do Novo Testamento foi enxertada
na “oliveira” antiga que é Israel (Veja Romanos 9: 17 e seguinte). Os ramos
enxertados continuam a crescer e substituem os ramos antigos. Isso já começou
nos dias de Cristo. A antiga Israel rejeitou o Cristo e o crucificou, mas Deus
o ressurgiu dos mortos e ele subiu ao céu e mandou o Espírito Santo. O Espírito
Santo foi dado aos seguidores de Jesus Cristo. Os novos ramos começaram a
brotar! Uma parte da antiga Israel se converteu e se juntou à igreja de Cristo,
mas a maioria persistiu em sua rejeição e perseguiu a Igreja de Cristo. Então,
tendo rejeitado Jesus Cristo, o filho único de Deus, o messias, os “ramos
antigos” se manifestaram mortos e foram cortados, e os “novos ramos” foram
enxertados. As igrejas de Cristo foram os “novos ramos” que substituíram o
antigo povo de Deus e se tornaram a nova Israel.
A ideia da
Incorporação.
Essa ideia enfatiza que Deus é fiel para com seu povo de
Israel por causa da aliança que ele fez com Abraão, Isaque e Jacó. Pode ser que
a maior parte de Israel tenha rejeitado o Messias, mas O Deus da aliança terá
misericórdia para com seu povo no futuro. Já no presente, Deus manifesta a sua
misericórdia aos gentios: por meio da sua fé e batismo em nome de Jesus, eles
são recebidos na aliança que Deus tinha feito com Israel. Quem defende essa
ideia da incorporação aponta também para o texto de Romanos 9, 17-21, onde
Paulo fala sobre os ramos bravos que foram enxertados para dentro da oliveira
cultivada. Os defensores da “Incorporação” não somente observam os ramos novos,
mas também a raiz da oliveira.
Eles
apontam também para a expressão de Paulo em sua carta aos Romanos, dizendo: o
evangelho vai primeiro para o Judeu, depois para o Grego (Rm. 2:9).
Inicialmente, Paulo sempre procurava em primeiro lugar a sinagoga para pregar o
evangelho de Cristo e para disputar com os judeus. E quando eles não aguentavam
mais e expulsavam Paulo, ele ia para os gentios (veja Atos 19: 9-10).
Observações
Ambas as ideias têm um aspecto unilateral. Elas se
concentram em um só aspecto da metáfora da oliveira que Paulo usou em Romanos
11. A ideia da Substituição focaliza nos ramos novos que foram enxertados, e a
ideia da Incorporação é uma correção que quer contar também com a oliveira
inteira. Ambas querem definir a relação entre a Israel do Antigo Testamento e a
igreja do Novo Testamento. Uma enfatiza o “novo”, e a outra se concentra no
total. Porém, ambas se limitam à imagem que Paulo ofereceu, enquanto Paulo não
ofereceu uma imagem completa. Ele fala sobre duas árvores: a oliveira brava e a
oliveira cultivada. Paulo focaliza nos ramos secos que são cortados e os ramos
novos que são enxertados. Todos os ramos se alimentam pela raiz.
Um
elemento importante na interpretação deste texto é essa questão: o que é
exatamente a raiz da oliveira? Será que a raiz é Abraão, Isaque e Jacó? Muitas
pessoas interpretaram o texto assim, e ignoraram o antecedente (que será também
o descendente) de Abraão, que realmente alimenta e suporta a árvore.
Romanos
11,18 diz: “Saiba que não é você quem sustenta a raiz, mas a raiz a você. O
contexto maior da oliveira cultivada que foi plantada por Deus é o plano da
salvação e a vinda do Salvador. Para realizar isso, Deus chamou Abraão de Ur dos
Caldeus e o “plantou” na terra prometida, Canaã. Deus fez uma aliança com
Abraão e prometeu que nele serão abençoadas todas as famílias da terra. Nós
sabemos que essa promessa se realizou em Cristo Jesus, que é o descendente de
Abraão, porém ele é também o antecedente de Abraão, como Jesus mesmo disse em
João 8,58: “Eu afirmo que antes de Abraão
nascer, Eu Sou!” Jesus se apresentou
como o Deus da aliança que chamou Abraão! Os Judeus que ouviram isso não entendiam
o que ele quis dizer e apanharam pedras para apedrejá-lo, porque consideraram
isso uma blasfêmia. Então, a conclusão deve ser que O Messias alimenta e
sustenta a oliveira cultivada por Deus.
Isso foi confirmado por um dos
anciões em Apocalipse 5, 5 que chamou o Cristo glorificado de “O leão da tribo
de Judá e a raiz de Davi”; e Jesus confirma isso em Apocalipse 22, 16: “Eu,
Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às
igrejas. Eu sou a Raiz e o descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da
manhã”. Ele é o Alpha e o Ômega! O início e o fim. Jesus foi descendente de
Abraão (veja a genealogia de Mt. 1), mas ele foi também o antecedente de Abrão,
que é a raiz de Israel e que alimentou o povo de Israel, tanto no Antigo, como
também no Novo Testamento!
A ideia da Substituição se
concentra no que é “novo”, e parece que o antigo não conta mais. Mas isso nunca
foi a prática da igreja cristã. A igreja cristã não rejeitou os livros do
Antigo Testamento, e junto com Paulo sempre enfatizou que Abraão é o Pai de
todos os crentes! A aliança de Deus foi feita com Abrão no Antigo Testamento e
continua em Cristo no Novo Testamento. A continuação da antiga dispensação é
fundamental para o batismo infantil na nova dispensação. A ideia da
Substituição não expressa isso bem.
A ideia da substituição pode
também levar à ideia de que a igreja é a nova Israel, e ela deve continuar a
seguir a lei como Israel fazia no Antigo Testamento. A igreja é a “nova
Israel”! Porém, dessa maneira a ideia da Substituição ignora a visão bíblica do
cumprimento da Lei e dos profetas na vinda do Messias! Parece que o messias é o
verdadeiro filho de Deus, que cumpriu o que faltava no antigo Israel como
“filho” de Deus. Ele cumpriu a lei e as profetas por meio do seu sofrimento e
morte. Ele sofreu porque era justo, ele morreu enquanto era justo e carregou
toda a injustiça do povo de Deus.
Essa ideia de que Cristo é a
raiz da aliança da graça e que Cristo cumpriu as promessas e as leis da Antiga
Aliança pode e deve levar à um terceiro modelo de interpretação, que se chama a ideia Messiânica ou Cristocêntrica. Esse
é a terceira ideia, que explica melhor a relação entre Israel e a Igreja
cristã. Falarei mais sobre isso no próximo post. Até lá!
Comentários
Postar um comentário