Três ideias que explicam a relação entre Israel e a Igreja - Parte 2

 Olá, irmãos! 

Na última postagem explanei sobre duas das ideias; hoje, irei falar sobre a terceira. 


A ideia Messiânica ou Cristocêntrica.

 

Jesus Cristo não veio para abolir a Lei ou os Profetas, mas cumprir. O amor e a misericórdia dele é o cumprimento da Torá. Dessa maneira, ele também veio para cumprir Israel. Tanto no lugar de Israel, como também em nome de Israel, Jesus andou no caminho da justiça até a cruz; ele deu a sua vida na cruz e carregou a maldição de Deus sobre “todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas na Lei” (Gl. 3,10). Cristo cumpriu a lei e trouxe justiça para todos os que creem nele, judeus e gentios! Ele mandou seus apóstolos aos confins da terra para proclamar esse evangelho a toda tribo e a qualquer nação. O nome dele é proclamado no meio das nações. E, dessa maneira, o povo de Deus é reunido em redor do único Mediador entre Deus e os homens: Cristo Jesus. Todo aquele que crê nele e que é batizado em seu nome será salvo e faz parte do reino de Deus. Pedro confirmou isso no dia de Pentecostes, quando ele disse aos homens em frente dele: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito santo (Atos 2,38). As primeiras pessoas eram judias, mas o evangelho não ficou limitado à antiga Israel. Jesus se limitou, no seu trabalho, à antiga Israel. Ele mesmo disse à mulher cananeia: “Eu fui enviado apenas às ovelhas perdidas de Israel!” “Não é certo tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Porém, a mulher respondeu: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Jesus se compadeceu e respondeu: “Mulher, grande é a sua fé!”, e ele deu o que ela desejou! Jesus foi enviado às ovelhas perdidas de Israel, mas ele mesmo enviou seus apóstolos até os confins da terra. Paulo foi um deles, e ele escreveu que o evangelho é tanto para os Judeus como também para os gentios. A carta dele aos Romanos é uma testemunha disso, especialmente o capítulo 11.

                De acordo com Paulo, o crescimento do número de gentios está ligado com o futuro de Israel. Em Rm. 11,13, ele diz: “Estou falando a vocês, gentios, visto que sou apóstolo para os gentios”. O desejo dele é que o ministério dele possa provocar ciúme no meio dos Judeus e salvar alguns deles. A rejeição deles é a reconciliação do mundo. E, assim, todo Israel será salvo (11,26)! Esse é o mistério do futuro de Israel.

                Paulo confirma essa ideia na sua carta aos Efésios. Em Ef. 2,19, ele diz: “Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus como Pedra Angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo edificados juntos, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito”.  

 

Uma das consequências dessa ideia é o fato de que todas as pessoas devem se arrepender: em primeiro lugar, os Judeus, e também os gentios. Os Judeus devem reconhecer que Jesus é o Messias que Deus enviou. Ele é o único Mediador entre Deus e os homens. Não há outro caminho para entrar no Reino de Deus. Cristo é o caminho e a verdade. Os gentios devem ir neste caminho e seguir os passos de Jesus, mas os Judeus também. Quem acredita que ainda existem duas alianças, uma com Israel e outra com a igreja, acredita também em dois caminhos: um caminho é o caminho da lei, e o outro caminho é o de Jesus Cristo. Isso nega que Cristo cumpriu a Lei e que ele é o único Mediador entre Deus e os homens.

                Outra consequência é que nós não precisamos guardar as leis do AT como os Judeus faziam (ou fazem). Jesus cumpriu a lei, e os vários conflitos que ele teve com os Fariseus, que funcionavam como guardas da Lei, mostram que Jesus tinha uma outra visão da lei. Várias vezes ele disse: Desejo misericórdia, não sacrifícios! Ele disse isso pela primeira vez em Mt. 9,13, e, um pouco depois, mais uma vez, em Mt 12,7: “Se vocês soubessem o que significam estas palavras: “desejo misericórdia, não sacrifícios”, não teriam condenado inocentes”. Os Fariseus ignoraram um elemento básico da lei: a misericórdia. Cristo estava cheio de misericórdia, e assim ele cumpriu a lei.

               

                Mais uma consequência é outra hermenêutica. Como ler a Bíblia, e espacialmente o Livro de Apocalipse. Muitas pessoas leem o livro de Apocalipse com a ideia de que existem duas alianças, uma com Israel e outra com a Igreja. Mas essa visão não é correta. Em 1990 foi publicada uma tese, escrita por H.R. van de Kamp com o título “Israel no Apocalipse”. O autor fez uma pesquisa para descobrir o papel do povo de Israel na visão do futuro de acordo com a Revelação ao João. A primeira conclusão encontra-se na primeira tese, que diz o seguinte:

“O inteiro povo de Deus, de acordo com a visão do Apocalipse de João, é formado pelo total de todos os crentes de todos os povos. Na visão do Apocalipse não existe um lugar à parte para os membros do povo Judeu – salvo o lugar especial dos doze apóstolos em Apocalipse 21,14” (Veja H.R. van de Kamp, obra citada, primeira tese (1990).

                Finalmente, mais uma observação. Muitos crentes defendem uma solidariedade para com o estado de Israel de acordo com a sua visão de que existem duas alianças, mas não existem duas alianças, a antiga aliança foi renovada em Cristo Jesus. Então, seria melhor mudar o foco e, em vez de defender uma solidariedade para com o estado de Israel, defender a solidariedade com o Messias de Israel, que é Cristo Jesus.

               

 

 

 


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